domingo, 15 de dezembro de 2013

-Mas é o meu jeito!

Alice foi minha durante os meses de gestação, SÓ minha. Tá, ela era um pouco do papai porque afinal ele teve todo o trabalho de pedir à cegonha uma sementinha cor-de-rosa do jeitinho que eu queria. Ainda quando nossa pequena nasceu havia uma demanda enorme de cuidados que  não o envolviam, e por mais que ele permanecesse juntinho conosco, pouco podia fazer. O colo era um pouco desajeitado, a troca de fraldas sempre acompanhava um pedido de ajuda, mas o olhar que a cria e o criador trocavam era sempre apaixonante. Acho que ela tão pequenina deveria pensar - eu ouvia sua voz papai, você sempre conversava comigo na barriga da mamãe-, e enchia de beijos também, cantava umas músicas estranhas com uma voz desafinada, mas ela com certeza já sentia o seu amor. 
O tempo passa rápido demais, uma rotina já começa a tomar forma e aí os filhos começam a não ser tanto assim das mães. Eles passam a ser de quem puder  tirar-lhes  um sorriso. E foi assim que Alice foi tornando-se também do pai. Finalmente, acho que pensou ele. Risos.
Certo dia após uma noite daquelas, Alice ficou com Yohann para que eu pudesse descansar um pouco. Mas e mãe desliga o sensor "cuidado com o meu filho" quando? Eu acho nunca! Rolava de um lado para o outro na cama, os olhos ardendo de tanto sono, mas ouvia cada sonzinho que a pequena emitia quando estava com o pai. A conversa é um pouco diferente, as brincadeiras também. Pais têm a mania de jogar crianças para cima, fazer brincadeiras barulhentas e espalhar brinquedos para todo o lado. Gostam de conversar como gente adulta, sem muito nhenhenhém, contam histórias de gente grande e pouco atribuem apelidos para as coisas. Fazem planos para o futuro, fazem até proibições para daqui a uns vinte anos. Mas a  paciência e o afeto é o mesmo! Na verdade, só mudam a ordem das coisas. -Voltando a minha história- Escutei o barulho da porta, iriam sair para dar uma volta no condomínio. Estava ventando um pouco e acabei lembrando que nossa pequena estava de manga curta. Lá vem o pensamento de mãe - será que ele colocou um casaco?- resolvi dar uma espiadinha pela janela. Não os vi, mas aí pensei na possibilidade do papai ter levado uma manta para cobrir pelo menos os bracinhos. Remexi ainda mais na cama.
-Será que eu devo descer para checar isso? Melhor não, vai que ele fica triste comigo! Vou esperar, pensei. Remexi mais um pouco, estava fritando ali. Ouvi o barulho da porta, -Oba, voltaram! -, resolvi enfim tentar dormir. Em seguida ouvi um chorinho, desses que bebês fazem para pedir mais um colo, e senti uma pontadinha de vontade de levantar de novo. Permaneci no quarto, quietinha, com os olhos fechados. Pouco tempo depois, Yo veio ao quarto e me encontrou de olhos bem abertos - descansou um pouco amor?- como dizer que não, não é mesmo?
Que mania será que mãe tem de achar que só ela pode cuidar bem do filho? Ai, não sei. Aprendi que  mães não param nunca. E também não permitem-se parar até certa idade dele! O pensamento está sempre envolto a uma questão ligada ao nosso pedacinho de gente. O fato é que cada um tem um jeito de cuidar da cria e nós temos que aprender a respeitar isso. Um ótimo exemplo (que super acontece aqui em casa) é a maneira como os pais seguram a cria. A mãe quase sempre o segura virado para si, num instinto de proteção, já o pai trata de virar a criança para frente, para que descubra o mundo.
O que seria dos filhos se não fosse esse lado paterno?  É necessário que alguém os leve para uma atividade diferente, com pessoas novas, de um jeito novo e nem tão certo [ aos nossos olhos] assim. É preciso que a criança tenha vínculos e confiança em alguém que não a mãe. E é aí que entra a figura paterna, tão importante, tão afim de criar regras diferentes.  
Nós costumamos normatizar tudo, e quando o pobre pai resolve fazer algo já vem aquela frase - você vai fazer assim?-faz desse jeito! Você não está fazendo certo ( leia-se: DO MEU JEITO!)! Para isso apenas um pedido: papais, tenham a santa paciência! Risos. Um dia, talvez,  vocês não precisarão mais dizer :- Mas esse é o meu jeito! 

#umbeijoamor  


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